quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Resposta a uma filha de santo






Minha filha,

             Talvez eu tenha tido uma reação de leoa querendo proteger seus filhotes, além do ciúme por terem procurado alimento fora do meu domínio. Por outro lado penso que o fato de vocês quererem me poupar pode causar problemas maiores, principalmente nesta área religiosa. Somos um clã e como tal temos que agir. Se um membro do clã está fragilizado é importante que sejam reunidas todas as forças para que possamos fortalecer os elos da corrente.Os problemas de vocês são meus também e vice-versa. Sempre haverá tempo para consertar as coisas entre nós. Quanto ao aspecto religioso é o seguinte: a nossa religião vem de uma tradição milenar e de uma cultura em que o sagrado e o profano são duas faces de uma mesma moeda. Para nós, viver é uma arte: a arte de nascer, a arte de banhar-se, a arte de comer, arte de brincar, a arte de aprender, a arte de ensinar, a arte de crescer e a arte de morrer. Quero dizer que: o conceito de religião, para nós, transcende o aspecto de re-ligar porque estamos intimamente ligados à natureza, isto é, somos natureza e ela é nós. Para nós tudo tem vida, tudo tem uma correspondência com a vida, tudo tem axé, porque axé é força da natureza. Não somos isolados, formamos uma cadeia de conexões e arranjos; conexões estas que se interligam como nós de uma rede infinita, tecida socialmente por cada um; arranjos estes que se estabelecem a partir de fatos, de sentimentos, de percepções, onde o sentimento, a percepção, o fazer de cada um repercute em todos e no Todo. Quanto maior for a conexão melhor será o arranjo e, quanto melhor for o arranjo, melhor será o tecido social. Isto significa que a cada nó que se dá na rede de conexões todos os demais nós já arranjados sofrem influência direta. Portanto cada um tem que se preocupar com o seu fazer cotidiano e ter o cuidado de proteger a rede no qual está ligado. Um furo na rede compromete a energia de todos, porque enfraquece os elos da corrente protetora que cerca o grupo. Mas enfim quero te dizer que a gente aprende pela experiência vivenciada e “não se faz omelete sem quebrar os ovos“. Tudo vai ficar bem. Beijos. Mãe Sandrali d’Oxum
                                                                     22/04/2010

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