Registro de quando me
tornei a mãe de alguém que não me cabia como filha.
Esse é um bilhete-poema
escrito em guardanapo de papel de seda,que recebi e vou omitir a signatária para não ferir suscetibilidades...
"Prá Mamãe da ....
“Hoje eu descobri que sou uma mulher.
“Hoje eu descobri que sou uma mulher.
E tu és extremamente importante nisso.
Tu és a PRIMEIRA MULHER INTEIRA que eu encontro em toda
minha vida.
MULHER e INTEIRA: era preciso isso para que eu pudesse
nascer.
Para que eu ... Mulher
inteira pudesse nascer só perto de outra mulher inteira.
Então mãe, reparto contigo esta minha hora de filha mulher.
Eu te amo.
A gente não é o outro, mas vem do outro.
Eu não poderia ser, não tinha que vir.
Teve tu e eu te agradeço por isso.
Sei que não te preciso de minha mãe, nem caibo como tua
filha.
Mas foi preciso te ter mulher inteira para me saber
possível.
Não é piração da minha cabeça.
Tu não estavas no meio quando tudo aconteceu.
Saí da sessão e me veio a imagem da minha mãe: feia, pedaço,
negada, doente...
E me vi mulher. Me passou na cabeça algo como essa não é a
minha mãe.
E aqui sentada percebo.
Obrigada por ter me tornado possível.
Obrigado Mãe.
Te Amo.
............
5/6/1987.
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