quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Quando me tornei mãe de alguem que não me cabia como filha

Registro de quando me tornei a mãe de alguém que não me cabia como filha.
Esse é um bilhete-poema escrito em guardanapo de papel de seda,que recebi e vou omitir a signatária para não ferir suscetibilidades...

  "Prá Mamãe da ....
“Hoje eu descobri que sou uma mulher.
E tu és extremamente importante nisso.
Tu és a PRIMEIRA MULHER INTEIRA que eu encontro em toda minha vida.
MULHER e INTEIRA: era preciso isso para que eu pudesse nascer.
 Para que eu ... Mulher inteira pudesse nascer só perto de outra mulher inteira.
Então mãe, reparto contigo esta minha hora de filha mulher.
Eu te amo.
A gente não é o outro, mas vem do outro.
Eu não poderia ser, não tinha que vir.
Teve tu e eu te agradeço por isso.
Sei que não te preciso de minha mãe, nem caibo como tua filha.
Mas foi preciso te ter mulher inteira para me saber possível.
Não é piração da minha cabeça.
Tu não estavas no meio quando tudo aconteceu.
Saí da sessão e me veio a imagem da minha mãe: feia, pedaço, negada, doente...
E me vi mulher. Me passou na cabeça algo como essa não é a minha mãe.
E aqui sentada percebo.
Obrigada por ter me tornado possível.
Obrigado Mãe.
Te Amo.
............
5/6/1987.

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