segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Trinta e dois dias já se passaram...


Talvez poucos se dêem conta do que perderam. Não foi só o Babalorixá, o Pai de Santo que retornou à casa mítica . A nação Cabinda perdeu um baluarte: uma enciclopédia da matriz africana, uma sabedoria , se foi com Ele. Muitos serão os ditos e os des-ditos, mas poucos dirão a verdade, a não ser aqueles que puderem afirmar,  como Ele afirmava: "eu vi, eu estava lá...".
Que nosso amor por Ele sirva de elemento para preservar aquilo que nos foi ensinado, dignifcando e nos fortalecendo contra as maledicências e as traições.
Gbogbo àse.
(força energia para todos)
Iyalorixá Sandrali d'Osun






domingo, 4 de dezembro de 2011

Escrito a um ano atras...



                                                                                         
                                                                                    
                                                                Pelotas, 04 de dezembro de 2010.

Aos Companheiros da Setorial de Combate ao Racismo.

                             Bem, aqui estou eu refletindo sobre a possibilidade da construção de uma sociedade gerenciada pela alma e onde a solidariedade tenha o poder de influenciar nas estruturas sociais de forma ágil, simples e eficiente. E tudo isto feito através do Amor, da Competência, da Paixão pelo Saber, da Generosidade, da Solidariedade de cada um e cada uma dos que acreditam neste sonho e ajudam a torná-lo possível.
                              Eu tenho paixão pelo trabalho e levo a sério a confiança que depositam na minha competência. Mas gosto da simplicidade e detesto disputa desqualificada. Prefiro escrever a falar, prefiro ser a ter, prefiro conquistar a disputar, prefiro a construção nos bastidores ao show no palco.
                           Embora meu agir possa criar a idéia de complexidade devido à minha circularidade, meu jeito de pensar estratégias  é simples e se baseiam em três premissas: - disciplina prazerosa pelo trabalho de servir o melhor cardápio que aprendi a fazer, - crença inabalável naquilo de melhor que o Outro tem a contribuir  - disputar apenas aquilo  que conduz à Unidade.
                           A escrita sempre foi meu melhor instrumento de denuncia e de anuncio e, quanto maior minha indignação, maior minha produção. Sou boa nisto,  tenho dificuldade  no discurso improvisado.
                           Vim para Pelotas em mil novecentos e noventa e nove, magoada pela forma como alguns companheiros, ligados ao movimento negro lidaram com a disputa pelos espaços no Governo Olívio Dutra.  Não souberam enxergar-me como um quadro político que acima de tudo ama o que faz e não tolera atitudes maquiavélicas e perversas, muito menos traição de irmãos. Afastei-me da política partidária, sem, no entanto, me desfiliar do PT.
                          Durante estes doze anos, eu estava quieta no meu espaço trabalhando com meus adolescentes em conflito com a lei, tentando fazer cumprir o ECA na execução da medida sócio-educativa de privação de liberdade, embora sabendo que a Fase estampa o fracasso da sociedade no trato de suas crianças e adolescentes e da violência estruturalmente construída
                         Plantei meu axé em Pelotas e disto cuidei muito bem.  Minha militância passou a ser a luta contra a intolerância religiosa, sem fazer estardalhaço, nem uso da política partidária. Aquietei meu coração, mas continuei a sonhar com uma sociedade solidária, ética e, por si só, igualitária.
                         Dediquei-me, então, a cuidar da formação das minhas filhas, pois elas são o maior presente que Deus me deu e se, na infância delas, a política e o trabalho as privou da minha presença mais próxima, quantitativamente, na sua adolescência resolvi que o cuidado a mim cabia como presença afetiva e efetiva e, muitas vezes incomodativa, pois  jamais admiti que  elas me dissessem: não te metas na minha vida. Meti-me e muito... O resultado disto é que uma está cursando Psicologia, quer fazer mestrado, doutorado e por aí... E a outra depois de cursar três anos de Agronomia, fez o ENEM, está cursando Direito e aos vinte e dois anos ingressou na política. As duas também são ialorixás comprometidas com a causa contra a intolerância religiosa. As duas me tem como confidente, como conselheira, como sustentáculo, como referencial, como alguém a seguir.  Isto representa a síntese de mim mesma e é tudo que qualquer mãe poderia desejar: padecer neste paraíso e dar-se conta que valeu a pena, que cumpriu sua missão e devolve para o Mundo sua dedicação simples e digna de um Prêmio Nobel.
                         Em julho, fui a Porto Alegre para receber uma homenagem, levando com prazer e muito orgulho minha filha Winnie que já estava em campanha eleitoral. Eu estava feliz com o reconhecimento como liderança feminina, com a indicação feita pela Lanna Campos, pessoa que me introduziu nas comunidades, como Morro da Conceição, Vila Cruzeiro, Restinga. Lanna me falou: "Teu chefe virá neste evento e quer falar contigo", referindo-se a Tarso Genro com quem tive a honra de trabalhar, no seu primeiro governo na Prefeitura de Porto Alegre.
                         Durante o evento, emocionei-me ao rever companheiras e companheiros de militância. Emocionei-me com a fala do Julio Quadros que declarou que havia votado em mim quando candidata a vereadora. Emocionei-me quando vi José Reis, meu fiel escudeiro e coordenador da minha campanha.
                             
                     O então candidato a Governador, Tarso Genro, ao cumprimentar-me, abraçou-me e me falou, ao pé do ouvido: "A Sandra disse que acha que desta vez esse negócio vai dar certo e mais uma vez lembrou-se de ti para ocupar o espaço, tradicionalmente ocupado pela primeira dama, como foi na prefeitura". Eu sorri e respondi:- Diga a ela que por ela eu volto para Porto Alegre e aceito a incumbência.

                    Logo depois falei com Zé Reis e contei o fato. Ele me disse: "Bom, é um convite. Este é um momento diferente daquele que enfrentaste na Prefeitura. Estás afastada, mas agora estás sendo convidada  independente de indicação do movimento ou núcleo".
                       
                   Depois, em agosto, veio a coordenação da mesa do evento Diálogos para Promoção da Igualdade Racial, no Satélite Prontidão, com a presença do Ministro Elói e do Senador Paulo Paim. Na discussão de como seria a composição da mesa houve, para variar, questionamentos quanto à representatividade. Falei que todos nós trazemos conosco uma ancestralidade e isto, por si só, já corresponde a uma representatividade incontestável; por outro lado eu estava ali para contribuir e não haveria qualquer constrangimento em abrir mão da coordenação da mesa. A companheira Lanna num dado momento pontuou sobre o fato de Tarso Genro ter solicitado que a mesma me convencesse a voltar para Porto Alegre a fim de estar no Gabinete da Primeira Dama.   Zé Reis se inscreveu é apontou que não era o momento, pois precisávamos primeiro ganhar o Governo e tínhamos que ter cuidado para não queimar nomes. Outro companheiro pontuou que havia outros nomes para ser consultados, talvez com mais representatividade.  A questão gerou constrangimento e eu falei que não autorizava ninguém, nem mesmo a Lanna, por quem tenho estima e uma relação afetiva (sou madrinha do filho dela), a colocar meu nome em qualquer espaço, principalmente porque eu já sofrera bastante com a experiência do MAPA; eu estava ali preocupada com a eleição do Paim, pelo que ele representava para nós. Depois disto começamos a organizar propriamente dito o cerimonial do encontro.
                     Quando Tarso chegou, Zé Reis falou a ele que já estava havendo "tititi" em relação ao meu nome. “Tarso me deu um abraço fraterno e disse: Quem escolhe sou eu, pois sou eu que terei que carregá-la”.

                     Bem, a fala de Tarso foi ouvida por todos que ali estavam presentes onde ele citou-me e cutucou-me, falando do meu trabalho a frente do Mapa.

                                Bem, dali em diante, segui, cumprindo as orientações, como militante e com a disciplina e discrição que me caracterizam. E algumas pessoas acompanharam meus movimentos e trabalho de formiguinha durante a campanha. Com o Caderno do Programa de Governo, embaixo do braço, busquei o comprometimento, de cada candidato, com as nossas questões, que ali, no Caderno, estavam contempladas, fruto do trabalho desta Setorial. E a minha fala era a seguinte: - Fulano de tal tem uma cara preta e está fazendo campanha pra te eleger. Tudo bem, mas nós queremos que, se fores eleito ou eleita, não te esqueças de defender as questões que nos contemplam. Queremos o teu compromisso com a nossa causa-.  E assim fui indo, independente de corrente, mas respeitando as demandas oriundas desta Setorial, através do contato com a Sandra Maciel. E porque a Sandra? Porque eu respeito as instâncias partidárias e seus dirigentes. Penso que, se nós não respeitarmos o que nos mesmos construímos, não poderemos exigir que nos respeitem.  
                               Em outro momento consultei a Reginete Bisbo também movida pela relação de respeito, solidariedade e confiança.

                               Eu sou assim, não tenho culpa que algumas pessoas não consigam me ver assim, como realmente sou. Valorizo a fidelidade e não aceito traição. Respeito as instâncias partidárias e deixei explícito que não vim para disputar qualquer espaço porque não me disponho a isto, não quero isto pra mim. Apenas aceitei um convite do então candidato ao Governo do Estado.  E se ele, o Governador, assim quiser, eu estarei disponível para o que der e vier, mas preservando-me contra a maledicência e a incompetência.

                               Nos últimos dias, participei (com a legitimidade que minha trajetória e minha ancestralidade me conferem na luta contra as intolerâncias e o racismo) de três momentos de construção de nomes e indicações de espaços para dar conta das nossas demandas. E atrevo-me a fazer minhas considerações fraternas a respeito deste processo: penso que devemos rever nossos métodos para que não haja desconstituição do processo de luta. Não podemos perder a referência de quem somos e não podemos ser insanos e escolher o lugar de perdedores enquanto coletivo. Não podemos gastar energia no lugar errado. Nossa energia tem que estar voltada para a construção de políticas públicas para nosso povo, políticas que dêem conta das demandas da comunidade negra. Não temos o direito de desconsiderar o sonho de milhares de pessoas que nos tem como referência.


Axé e grata pelo apoio.
Sandrali de Campos Bueno






























                                                                                         
                                                                                    














                                                                                         
                                                                                    

                                                               
























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sábado, 3 de dezembro de 2011

Neste ano o Natal foi complicado...mas ainda assim valeu a luta

 E que Natal complicado...

Sandrali,
A dimensão da crença na possibilidade de mudança de estruturas está relacionada diretamete com a nossa capacidade de suportar os recuos.
Algumas pessoas com o seu viver exemplificam a luta.
É bom te ter guerreira e forte nessa luta. É muito bom te ter como amiga.
Que em 89 nossos recuos não precisem ser tantos como em 88 e que consigamos em nossa fragilidade n8os mantermos fortes na crença .
Com carinho.
 Natal/88

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Um Natal com arte...

 De Maria aprendi que a arte liberta...

Quando fui procurar não tinha mais, o barquinho de crianças, mas essa bela criança quebra o galho. Não retrata na forma a criança brasileira, mas o conteúdo lembra. Tens um belo trabalho pela frente  és de uma força interior que garante e muito o processo de mudança. Que 88, venha cheio de mais esperança, crença e amor. Caso não venha, faremos isto de qualquer forma. As brechas estão aí pra isso.
Dez/1987
Maria Rita

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Escrito em um cartão de Natal

Este veio de Miriam França.

      "Ser livre é poder se dizer o que se pensa, sem usar o famoso 'jogo de cintura';
               ser livre é estar aberto para conhecer e sentir as pessoas a volta;
                            ser livre é amar, brigar, xingar, e lutar por um mundo mais digno e sincero.
                                         Um dia seremos livres. É com pessoas como tu que iremos construir este                                                    paraíso de liberdade  .
                                                            Obrigada por teres assumido o papel de ouvidor que tanto te exigi.
                                                                                    Continua digna.
Dez/1988.