quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Construindo a verdade



Relatório elaborado a partir da visita a uma unidade da Fase/RS

                                            Em busca da Verdade


   Considerações Iniciais:
     
     Dizem que quando a Verdade foi jogada sobre a Terra, ela se fragmentou em vários pedaços. Cada um que pegou um pedaço disse: Eis aqui a Verdade, eu a tenho. Vários são os diagnósticos e relatórios que se apontam em relação ao Case, de acordo com o olhar e o lugar de quem o aborda e todos têm uma parte da verdade. Supervisores vêem o Case e dizem que falta unidade na ação; psicólogos vêem e dizem que falta motivação, auto-estima; administradores vêem e dizem que falta capacidade de gestão; políticos vêem e dizem que falta articulação e fidelidade ao programa de governo; educadores dizem que falta projeto pedagógico; advogados dizem que falta cumprimento de leis; agentes de segurança dizem que falta disciplina e hierarquia; alguns falam que há omissão; outros que há incompetência; outros que há perversidade. Cada especialista expressa seu saber, sua experiência, sua opinião a respeito do Case, nem sempre se dando conta que tem apenas uma parte da verdade.

    E agora vimos nós, também relatar sobre o Case. Pois que nos demos conta que, ao explicitarmos nossas considerações, estas são apenas parte da verdade e se, por vezes, parecer-lhes a verdade toda é apenas resultado do nosso compromisso com a história de doze anos desta Unidade; é apenas um alerta para uma visão mais ampla acerca do desafio de enfrentar nossas contradições e divergências no trato da dinâmica institucional; é apenas para reforçar aquilo que pensamos deva ser ressaltado no resgate do protagonismo institucional de cada servidor daquela Unidade: é apenas para reforçar o traço daquilo que nos parece ser a essência de nossa contribuição enquanto servidora há quarenta e um anos, desta Fundação.

   
Não temos a pretensão de oferecer a receita, mesmo porque a transformação deve ser vista de forma transdisciplinar, deixando todas as linhas de saberes se entrecruzarem e que a abordagem sócia educativa seja praticada a partir da vivência de pessoas reais e protagonistas de sua ação.
  
  Metodologia:

           Técnicas Utilizadas:
            Entrevistas individuais, reunião, observação do cotidiano institucional em horários diferenciados.
           Descrição: realizamos entrevistas com: - dois chefes de equipe, três agentes sócio-educativos, diretora, assistente de direção, assistentes administrativos, três técnicos. Participamos de reuniões com: equipe técnica; escola; setor de saúde.
           Carga horária: 6h/diárias distribuídas nos turnos manhã ou tarde de acordo com a necessidade.

  Considerações Gerais

      Embora, após a solicitação, tenha sido feito um planejamento de visitas, em um período mais abrangente para executar a tarefa, é possível elencar os dados observados, bem como contextualizar as falas e as manifestações dos servidores do Case/, mesmo que não tenha sido dada continuidade ao procedimento, uma vez que a escuta qualificada confere subsídios para analisar a realidade da Unidade, neste momento.

     Percebemos que o clima atual na Unidade é pautado pela desconfiança, pela dissociação, pelo descrédito na intervenção da sede, pelo sentimento de menos-valia, pela falta de hierarquização dos procedimentos; pela insegurança e pela descrença na capacidade de se auto-gerenciar.

     Acreditamos que a Unidade vinha caminhando razoavelmente na busca de sua reestruturação, até o advento do tumulto, quando se explicitaram as contradições nos encaminhamentos e orientações, no gerenciamento da Unidade como um todo.

     Observamos um sentimento generalizado, e até algumas verbalizações, de que o Case está servindo de ‘bode expiatório’ dos problemas gerais oriundos da missão da Fundação de executar a medida sócio-educativa de internação.

     Entendemos que a falta de unidade na intervenção contribuiu para aumentar a dissociação causada pela desconstituição do papel de cada servidor na realização de sua tarefa.

     A repetição de pautas de comportamento, já vivenciados pelos servidores do Case, em outras administrações, provoca uma reação de resistência e, ao mesmo tempo, de apatia frente à necessidade de re-construção dos mecanismos de sustentação do Plano de Atendimento Coletivo.

     As falhas significativas na comunicação e a falta de transparência nas decisões contribuem para o aumento da distorção das informações, bem como deslegitima as ações sócio-educativas, além de criar um clima que corrompe a dinâmica institucional.

     A constante ‘negação’ da história da Unidade e as intervenções a partir da visão unilateral, bem como a introdução de práticas oriundas de outras unidades, acarretam no não-comprometimento na execução das ações deliberadas.

     Considerações finais:

       Ao afirmarmos, no início, que as considerações que exporíamos, é apenas parte da verdade, entendemos que a verdade toda deva ser construída (ou re-construída) na intersecção da verdade de cada servidor, cada servidora do Case. Entretanto deixamos algumas propostas, visando uma intervenção que se legitime através da ação cotidiana, protagonizada por todos envolvidos na dinâmica institucional e na execução do PAC e na tarefa primordial de cumprir com o Estatuto da Criança e do Adolescente. A partir daí, sugerimos:

- resgate da identidade profissional do servidor, onde a relação de trabalho seja uma experiência prazerosa e construtiva, através de uma ação bem vivenciada, concreta, possível e construída conjuntamente;

-proposição de práticas que tenham uma abrangência organizativa, comprometida com os recursos do ‘aqui e agora’, com mudanças para todos e garantindo o bem estar de todos os servidores;

-utilização de mecanismos de sustentação e enraizamento de espaços de reflexão e intervenção qualificada nas questões das relações interpessoais que interagem no ‘fazer o sócio-educativo’;

-criação de espaço permanente de formação com objetivo de promover o resgate da auto-estima do servidor, enquanto sujeito protagonista da história da Unidade;

-definição do processo de gerenciamento dos recursos humanos disponíveis na Unidade (‘definir o que se quer e fazer com que aquilo que se quer aconteça’);

-estabelecer um acordo ou ‘pacto gerencial’ com os agentes sócio-educativos, no sentido da distribuição da carga horária no atendimento da demanda da Unidade.

 29/9/2011
                                    Sandrali de Campos Bueno
                                        

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