Relatório elaborado a partir da visita a uma unidade da Fase/RS
Em busca da Verdade
Considerações Iniciais:
Dizem que
quando a Verdade foi jogada sobre a Terra, ela se fragmentou em vários pedaços.
Cada um que pegou um pedaço disse: Eis aqui a Verdade, eu a tenho. Vários são
os diagnósticos e relatórios que se apontam em relação ao Case, de
acordo com o olhar e o lugar de quem o aborda e todos têm uma parte da verdade.
Supervisores vêem o Case e dizem que falta unidade na ação; psicólogos vêem e
dizem que falta motivação, auto-estima; administradores vêem e dizem que falta
capacidade de gestão; políticos vêem e dizem que falta articulação e fidelidade
ao programa de governo; educadores dizem que falta projeto pedagógico;
advogados dizem que falta cumprimento de leis; agentes de segurança dizem que
falta disciplina e hierarquia; alguns falam que há omissão; outros que há incompetência;
outros que há perversidade. Cada especialista expressa seu saber, sua experiência,
sua opinião a respeito do Case, nem sempre se dando conta que tem
apenas uma parte da verdade.
E agora
vimos nós, também relatar sobre o Case. Pois que nos demos conta que,
ao explicitarmos nossas considerações, estas são apenas parte da verdade e se,
por vezes, parecer-lhes a verdade toda é apenas resultado do nosso compromisso
com a história de doze anos desta Unidade; é apenas um alerta para uma visão
mais ampla acerca do desafio de enfrentar nossas contradições e divergências no
trato da dinâmica institucional; é apenas para reforçar aquilo que pensamos
deva ser ressaltado no resgate do protagonismo institucional de cada servidor
daquela Unidade: é apenas para reforçar o traço daquilo que nos parece ser a
essência de nossa contribuição enquanto servidora há quarenta e um anos, desta
Fundação.
Não temos a pretensão de oferecer a receita, mesmo
porque a transformação deve ser vista de forma transdisciplinar, deixando todas
as linhas de saberes se entrecruzarem e que a abordagem sócia educativa seja
praticada a partir da vivência de pessoas reais e protagonistas de sua ação.
Metodologia:
Técnicas Utilizadas:
Entrevistas individuais, reunião,
observação do cotidiano institucional em horários diferenciados.
Descrição: realizamos
entrevistas com: - dois chefes de equipe, três agentes sócio-educativos, diretora,
assistente de direção, assistentes administrativos, três técnicos. Participamos
de reuniões com: equipe técnica; escola; setor de saúde.
Carga horária: 6h/diárias
distribuídas nos turnos manhã ou tarde de acordo com a necessidade.
Considerações Gerais
Embora, após a solicitação, tenha sido
feito um planejamento de visitas, em um período mais abrangente para executar a
tarefa, é possível elencar os dados observados, bem como contextualizar as
falas e as manifestações dos servidores do Case/, mesmo que não tenha
sido dada continuidade ao procedimento, uma vez que a escuta qualificada
confere subsídios para analisar a realidade da Unidade, neste momento.
Percebemos que o clima atual na Unidade é
pautado pela desconfiança, pela dissociação, pelo descrédito na intervenção da
sede, pelo sentimento de menos-valia, pela falta de hierarquização dos
procedimentos; pela insegurança e pela descrença na capacidade de se
auto-gerenciar.
Acreditamos que a Unidade vinha caminhando
razoavelmente na busca de sua reestruturação, até o advento do tumulto, quando
se explicitaram as contradições nos encaminhamentos e orientações, no
gerenciamento da Unidade como um todo.
Observamos um sentimento generalizado, e
até algumas verbalizações, de que o Case está servindo de ‘bode
expiatório’ dos problemas gerais oriundos da missão da Fundação de executar a medida
sócio-educativa de internação.
Entendemos que a falta de unidade na
intervenção contribuiu para aumentar a dissociação causada pela desconstituição
do papel de cada servidor na realização de sua tarefa.
A repetição de pautas de comportamento, já
vivenciados pelos servidores do Case, em outras administrações, provoca uma
reação de resistência e, ao mesmo tempo, de apatia frente à necessidade de
re-construção dos mecanismos de sustentação do Plano de Atendimento Coletivo.
As falhas significativas na comunicação e
a falta de transparência nas decisões contribuem para o aumento da distorção
das informações, bem como deslegitima as ações sócio-educativas, além de criar
um clima que corrompe a dinâmica institucional.
A constante ‘negação’ da história da Unidade
e as intervenções a partir da visão unilateral, bem como a introdução de
práticas oriundas de outras unidades, acarretam no não-comprometimento na
execução das ações deliberadas.
Considerações finais:
-
resgate da identidade profissional do servidor, onde a relação de trabalho seja
uma experiência prazerosa e construtiva, através de uma ação bem vivenciada,
concreta, possível e construída conjuntamente;
-proposição
de práticas que tenham uma abrangência organizativa, comprometida com os
recursos do ‘aqui e agora’, com mudanças para todos e garantindo o bem estar de
todos os servidores;
-utilização
de mecanismos de sustentação e enraizamento de espaços de reflexão e
intervenção qualificada nas questões das relações interpessoais que interagem
no ‘fazer o sócio-educativo’;
-criação
de espaço permanente de formação com objetivo de promover o resgate da
auto-estima do servidor, enquanto sujeito protagonista da história da Unidade;
-definição
do processo de gerenciamento dos recursos humanos disponíveis na Unidade
(‘definir o que se quer e fazer com que aquilo que se quer aconteça’);
-estabelecer
um acordo ou ‘pacto gerencial’ com os agentes sócio-educativos, no sentido da
distribuição da carga horária no atendimento da demanda da Unidade.
29/9/2011
Sandrali de Campos Bueno
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