Palmares
Para grande amiga Sandrali,
cuja vida é um compromisso
inquebrantável
com o amor, o respeito e a
liberdade
Zumbi dos Palmares
vento da liberdade
assoviando em branco ouvido
Benjamin Moloise para além dos mares
sereno e forte anunciando a vida
foi levado à morte
poeta que não mais verá seu dia
poeta da alma negra que não se
que embranquecida.
Mas busca na justa medida
o direito de
ser
há milênios
repelido
Inventariando o passado o mesmo sangue continua
a jorrar na terra não dividida
Mas Palmares veio. Palmares virá.
Crianças. Soweto, Brasil e Atlanta
é sempre o mesmo Albatroz
Negros Pixotes emergindo aos milhares do fundo dos morros
Vendendo noticias que não as suas
Limpando ruas alheias
Retornando, talvez, a su(j) favela
cobrando -arma em punho- o exílio da vida.
Negro Pixote ,algemado, à Casa é arrastado.
Banzo do morro
Banzo do samba
Banzo, banzo, banzo...
o pranto milenar do negro.
Negro Pixote, em-bran-que-ce!
Negro Pixote por vezes esquece
que Negro é grito
é garra
é negro
de lábios grossos a abrigar palavras que são denúncias,
de dentes fortes a quebrar
cadeias de liberdade cedida
de traços marcantes
de marcante presença.
Roubado o corpo, o nome e a alma.
Iansã, Ogum, Iemanjá e todos os
orixás
sobrevivem no fundo das senzalas.
Sarava
A-i-é,
Abá.
Trancado no ventre da noite
O sangue negro explode
nos mais diversos matizes.
Crianças - Soweto, Brasil e
Atlanta
é sempre o mesmo Albatroz
Mas Palmares existe,
Palmares existirá
Solta teu riso, liberta teus pés
engrossa esta roda
que o jeito é sambar para fora
da noite que te escondeu
E tantos serão os palmares e tantos serão os
cantares que negro, índio e
branco
com as palmas da vida todos vestidos
Quilombares.
Porto Alegre, 19/10/85.
Dóris Peçanha.
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