quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Palmares


Palmares 
                                                                                                                      
                                                                                                           Para grande amiga Sandrali,

                                                                                cuja vida é um compromisso
inquebrantável com o amor, o   respeito e a liberdade        


Zumbi dos Palmares
 vento da liberdade
assoviando em branco ouvido

Benjamin Moloise para além dos mares
sereno e forte anunciando a vida
 foi levado à morte
 poeta que não mais verá seu dia
 poeta da alma negra que não se que embranquecida.
 Mas busca na justa medida
                   o direito de ser
                   há milênios repelido

Inventariando o passado o mesmo sangue continua
 a jorrar na terra não dividida
Mas Palmares veio. Palmares virá.

Crianças. Soweto, Brasil e Atlanta
 é sempre o mesmo Albatroz
Negros Pixotes emergindo aos milhares do fundo dos morros
Vendendo noticias que não as suas
Limpando ruas alheias
Retornando, talvez, a su(j) favela
cobrando -arma em punho- o exílio da vida.
Negro Pixote ,algemado, à Casa é arrastado.

 Banzo do morro
 Banzo do samba
Banzo, banzo, banzo...
o pranto milenar do negro.

 Negro Pixote, em-bran-que-ce!
Negro Pixote por vezes esquece
que Negro é grito
                 é garra
                é negro
de lábios grossos a abrigar palavras que são denúncias,
 de dentes fortes a quebrar cadeias de liberdade cedida
de traços marcantes
 de marcante presença.

Roubado o corpo, o nome e a alma.
 Iansã, Ogum, Iemanjá e todos os orixás
sobrevivem no fundo das senzalas.

 Sarava
 A-i-é,
Abá.
Trancado no ventre da noite
 O sangue negro explode
 nos mais diversos matizes.

 Crianças - Soweto, Brasil e Atlanta
 é sempre o mesmo Albatroz
 Mas Palmares existe,
Palmares existirá
Solta teu riso, liberta teus pés
 engrossa esta roda
 que o jeito é sambar para fora
 da noite que te escondeu
E tantos serão os palmares e tantos serão os
 cantares que negro, índio e branco
com as palmas da vida todos vestidos

                 Quilombares.

       Porto Alegre, 19/10/85.
                     Dóris Peçanha.

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