Entendo que o tempo urge e a banda há muito já está na rua. Entendo que
é preciso respeitar nossas lideranças e instâncias partidárias. Mas respeito
não significa concordância absoluta. Respeito não significa calar quando nos
deparamos com o rompimento dos nossos sonhos mais caros. Respeito significa cumprir
com nossos acordos, acatar as decisões do coletivo, mesmo quando estas vão de
encontro aos interesses individuais. Respeito significa não perder de vista a
trajetória e a história de cada um que ajudou a construir a estrada que nos
conduziu à vitória.
Respeito significa romper com o mito de que todos
somos iguais. Respeito significa ter a coragem de reverter o pragmatismo que
nega o principio da solidariedade e restituir, não apenas o direito de lutar,
mas a capacidade de sonhar e desejar uma sociedade com oportunidades iguais
para todos.
Faz-se necessário revermos nossos métodos para que não haja
desconstituição do processo de luta. Não podemos perder a referência de quem somos e não podemos sermos insanos e
escolher o lugar de perdedores enquanto coletivo, enquanto segmento de um projeto político. É
evidente que o PT mudou, até porque cresceu muito, conquistou o Poder e hoje já
temos um acúmulo significativo em administrar as demandas nacionais e locais.
Porém para nós, negros e negras, muito há ainda que construir e não podemos nos
desgastar com movimentos que desconstituam nossa trajetória, nossa história de
luta. É preciso aprender com os erros do passado para que não percamos nosso
referencial. É fácil quebrar uma vara de marmelo, mas se unirmos as varas em um
feixe, ninguém conseguirá quebrá-lo. O que nos faz forte é a Unidade. Quando
aprenderemos isto?
Não podemos gastar energia no
lugar errado. Nossa energia tem que estar voltada para a construção de
políticas públicas para nosso povo, políticas que dêem conta das demandas da
comunidade negra. Nós não podemos brincar com o sonho de milhares de pessoas
que nos tem como referência.
Fala-se muito na transversalidade no
Governo Tarso Genro. Mas o que é transversalidade para nós, negros e negras?
Certamente não é apenas ocupar cargos em todos os espaços do Governo.
Transversalidade, para nós, é a contemplação das demandas da população negra
oriundas da vivência concreta no movimento social, aquela concretude que
extrapola as ações compensatórias ou assistencialistas. A transversalidade que
nos interessa vai alem dos privilégios de pertencer a esta ou aquela corrente
partidária. Afinal, fomos, por centenas de anos acorrentados por um regime
escravocrata e, ainda hoje, há correntes que impedem que a maioria da população afrodescendente esteja livre dos grilhões da opressão , da
discriminação , do racismo. A
transversalidade que queremos transcende aos partidos políticos sejam eles da
esquerda ou da direita, da situação ou da oposição, até porque, até hoje,
nenhum partido político deu conta das demandas da população afrodescendente,
nenhum partido pautou e, efetivamente, assumiu o compromisso com as
candidaturas de negros e de negras.
Out/ 2011 Sandrali de Campos Bueno
Out/ 2011 Sandrali de Campos Bueno
Nenhum comentário:
Postar um comentário