terça-feira, 11 de outubro de 2011

E porque não nós também...


                   Entendo que o tempo urge e a banda há muito já está na rua. Entendo que é preciso respeitar nossas lideranças e instâncias partidárias. Mas respeito não significa concordância absoluta. Respeito não significa calar quando nos deparamos com o rompimento dos nossos sonhos mais caros. Respeito significa cumprir com nossos acordos, acatar as decisões do coletivo, mesmo quando estas vão de encontro aos interesses individuais. Respeito significa não perder de vista a trajetória e a história de cada um que ajudou a construir a estrada que nos conduziu à vitória.
Respeito significa romper com o mito de que todos somos iguais. Respeito significa ter a coragem de reverter o pragmatismo que nega o principio da solidariedade e restituir, não apenas o direito de lutar, mas a capacidade de sonhar e desejar uma sociedade com oportunidades iguais para todos.      
                Faz-se necessário revermos nossos métodos para que não haja desconstituição do processo de luta. Não podemos perder a referência  de quem somos e não podemos sermos insanos e escolher o lugar de perdedores enquanto coletivo, enquanto segmento de um  projeto político.   É evidente que o PT mudou, até porque cresceu muito, conquistou o Poder e hoje já temos um acúmulo significativo em administrar as demandas nacionais e locais. Porém para nós, negros e negras, muito há ainda que construir e não podemos nos desgastar com movimentos que desconstituam nossa trajetória, nossa história de luta. É preciso aprender com os erros do passado para que não percamos nosso referencial. É fácil quebrar uma vara de marmelo, mas se unirmos as varas em um feixe, ninguém conseguirá quebrá-lo. O que nos faz forte é a Unidade. Quando aprenderemos isto?
                  Não podemos gastar energia no lugar errado. Nossa energia tem que estar voltada para a construção de políticas públicas para nosso povo, políticas que dêem conta das demandas da comunidade negra. Nós não podemos brincar com o sonho de milhares de pessoas que nos tem como referência.
                 Fala-se muito na transversalidade no Governo Tarso Genro. Mas o que é transversalidade para nós, negros e negras? Certamente não é apenas ocupar cargos em todos os espaços do Governo. Transversalidade, para nós, é a contemplação das demandas da população negra oriundas da vivência concreta no movimento social, aquela concretude que extrapola as ações compensatórias ou assistencialistas. A transversalidade que nos interessa vai alem dos privilégios de pertencer a esta ou aquela corrente partidária. Afinal, fomos, por centenas de anos acorrentados por um regime escravocrata e, ainda hoje, há correntes que impedem que a  maioria da população afrodescendente  esteja livre dos grilhões da opressão , da discriminação , do racismo.  A transversalidade que queremos transcende aos partidos políticos sejam eles da esquerda ou da direita, da situação ou da oposição, até porque, até hoje, nenhum partido político deu conta das demandas da população afrodescendente, nenhum partido pautou e, efetivamente, assumiu o compromisso com as candidaturas de negros e de negras. 
Out/ 2011                    Sandrali de Campos Bueno

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