quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Nem sempre a resposta está em livros...




Nem sempre a resposta está em livros, às vezes é preciso construí-la. E é o que ouso fazer para responder a indagação de uma filha de santo.

               A busca do nosso bem estar, do nosso sucesso, da nossa realização é algo que depende não só de nosso esforço, mas também das circunstâncias em que nos posicionamos frente à percepção da realidade, da autoconsciência e da aceitação daquilo que somos enquanto sujeitos protagonistas da própria transformação. Mas a busca da evolução espiritual, alicerçada na religiosidade de matriz africana, pressupõe a aceitação de que a Energia do Orixá é Amor.
                Não é fácil vivenciar este princípio, porque na realidade o que este amor exige é a modificação no nosso jeito de interpretar os desígnios do nosso destino, do nosso odu.
                Ao vivenciar a filosofa de matriz africana precisamos alimentar a convicção de que o orixá não tem a obrigação de viver a vida por nós, mas sim, de sustentar e amparar nossas fraquezas para que possamos desenvolver nossas habilidades e competências para que façamos do viver uma arte que se expressa no cotidiano.
                A responsabilidade do orixá para conosco é nos dar clareza para atingirmos a sabedoria e para adquirirmos a capacidade de ajudar ao outro, de nos colocarmos no lugar do outro, através da compaixão, da simplicidade, da liberdade de enxergar no outro o melhor de si mesmo. A nossa responsabilidade para com o orixá está em reconhecer que a energia que existe dentro de si só se expressa em sua plenitude se for reconhecida pela energia do outro e assim sucessivamente numa complexa e perfeita conexão que se estende pelo universo como uma rede protetora.  
              Orixá é energia e não um Ser que nos presenteia  quando desejamos algo ou nos pune quando desejamos o mal. Essa energia perpassa nossa vida através de um fio condutor denominado axé, asè. E é esse fio que nos une uns aos outros, como elos de uma corrente mítica que se entrelaça e se conecta com outra corrente estabelecida na concretude do viver em uma comunidade tradicional de terreiro. A organização e a hierarquização de uma comunidade tradicional de terreiro transcendem as relações instituídas na formalidade da sociedade civil, isto é, as obrigações que uma mãe de santo ou um pai de santo tem para com seus filhos de santo, e estes entre si, vão além do respeito, da obediência, da união, da confraternização, do acatamento de princípios e dogmas. A concepção organizativa de uma comunidade tradicional de terreiro parte do princípio da solidariedade, do cuidado com o bem estar de cada um e de todos, pois é esse cuidado que garante a preservação do asè. A evolução e a dinâmica da relação do sagrado e profano se dão na mesma proporção da relação do “sujeito-iniciado” com o “sujeito – cidadão”. E é a partir daí que a comunidade de terreiro se transforma no espaço significante e significador capaz de reconstruir a consciência do indivíduo como pertencente à comunidade humana.
Julho/2011.
Mãe Sandrali d’Oxum



Nenhum comentário:

Postar um comentário