domingo, 30 de dezembro de 2012

Simbolo da Luz



Sandrali
Através dos tempos, a luz  tem orientado os homens iluminando o caminho a percorrer...
Ela faz parte da magia que existe e é a porção mais profunda e verdadeira que permeia todas as criaturas... Especialmente os herdeiros da sacerdotisa pagã da antiga religião da Grande Mãe.
Vejo-te, assim, minha amiga: herdeira deste espírito único, vivo e misterioso que irmana as mulheres que amam a natureza e vivem sentindo, mais do que pensando ou imaginando...
Que a vela, com a qual te presenteio, seja para ti o símbolo da luz que faz parte da magia que irradias...
Tua amiga Vera
30/12/2002

domingo, 23 de dezembro de 2012

Ainda não estamos no poder


Hoje, ainda lembro dia em que assumi a Presidência do Movimento Assistencial de Porto Alegre, quando no saguão da Prefeitura, crianças e adolescentes de rua, meus velhos conhecidos, legitimavam com sua pesença , a escolha do prefeito Tarso Genro e indicação do Movimento negro. Com sua ruidosa e alegre presença, subverteram a ordem do cerimonial de posse. No meio de um clima de intensa emoção , a fala espontânea de um adolescente muito me emocionou e deixou uma marca. Ele me disse; “Sandrali, nos estamos no poder!”
Eu quero, neste momento, confessar a ele e a todas as crianças e adolescentes atendidos pelo MAPA e àquelas e àqueles que ainda não conseguimos atingir, que nós ainda não estamos no poder.
Nós só estaremos no poder quando o teu sonho de ter uma moradia digna, uma casa com quarto, sala, cozinha e banheiro, tornar-se realidade:
Nós só estaremos no poder quando o espaço, que as crianças e adolescentes de rua ocupam na sociedade, deixar de ser um espaço de exclusão;
Nós só estaremos no poder quando toda escola pública for uma escola aberta, quando a educação para as crianças e adolescentes de rua deixar de ser defendida como espaço como projeto alternativos para crianças pobres mas for o projeto educacional para todas as crianças brasileiras;
Nós só estaremos no poder quando o brincar na rua for apenas uma opção de lazer e não a única possibilidade de sobrevivência imposta por um sistema político social injusto, discriminatório e excludente;
Nós só estaremos no poder quando crianças e adolescentes de rua , na sua grande maioria negros, puderem construir sua cidadania a partir de identidade, do respeito por si mesmo,do resgate de suas raízes, de sua cultura;
Nós só estaremos no poder quando todos os setoresda sociedade civil conseguirem em parceria com os organismos governamentais participaremm do espaço para se cosntruir uma cidade justa e humana;
Nós só estaremos no poder quando todos os mecanismos de confinamento de crianças e adolescentes forem banidos, mesmo aqueles que se intitulam reeducativos;
Nós só estaremos no poder quando o atendimento de crianças e adolescentes de rua se estender como direito que vá da alimntação ao direito de sentir prazer;
Nós só estaremos no poder quando não precisarmos nos constranger ou nos indignar com a pergunta de uma criança de quatro anos de idade:
"Mãe, porque o papai noel nao atende as crianças pobres? 

Sandral ide Campos Bueno - Presidente do MAPA, 23 de dezembro de 1993.

sábado, 24 de novembro de 2012

Entregando a Minuta



EXCELENTISSIMO GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
DR. TARSO GENRO

 Por Povo de Terreiro fica compreendido o conjunto de mulheres e de homens que foram submetidos, compulsoriamente, ao processo de desterritorialização, bem como de desenraizamento material e simbólico, civilizatoriamente falando, de várias partes do continente africano, cuja visão de mundo não maniqueísta e/ou dicotomizada e por conta do rigor teórico da oralidade, ressignificaram, na dispersão pela Américas, sua cosmovisão de forma amalgamada devido aos elementos culturais invariantes, onde operaram, portanto, um “ativo interculturalismo” que se (re) territorializou geotopograficamente,  sob os fundamentos da xenofilia em que se consubstanciou toda uma dinâmica intercultural e transcultural e que assim o é no Estado do Rio Grande do Sul, como em todo o Brasil. ( Minuta : Artigo Primeiro, parágrafo único)

Talvez seja motivo de estranheza política para muitas pessoas o fato de estarmos fazendo a entrega desta Minuta que propõe a criação do Conselho do Povo de Terreiro. Porém nosso diálogo com este Governo, foi inaugurado e saudado no dia 21 de novembro de 2011, através da audiência com o Sr. Governador que saudou nossas reivindicações , constituindo um momento simbólico e significativo no Ano Internacional dos Afrodescendentes, sendo que a primeira reivindicação foi atendida de pronto e em 20 de dezembro do mesmo ano assumíamos uma cadeira no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Estado do Rio Grande do Sul.
Nós, Povo de Terreiro, temos afirmado que o espaço do terreiro é a ressignificação da universalidade, no sentido de acolher, em suas ações, toda a diversidade e contradições da sociedade, que se expressam na transversalidade das políticas que dialogam com toda comunidade.
Para nós, a dimensão das políticas públicas tem um caráter  de reparação civilizatória na busca da equidade econômica, social , política e cultural e , essencialmente, de combate ao racismo institucional.
Para nós, a dimensão da política publica vai do direito à alimentação ao direito de sentir prazer, o que nos leva ao processo de articulação com todos os segmentos da sociedade, do Estado.
Para nós, o desenvolvimento socioeconômico está intrinsecamente ligado à construção e/ou reconstrução da premissa civilizatória africana da filosofia UBUNTU o que significa que 'não podemos dar um passo a frente ou para o alto sem que toda a comunidade de um passo à frente e ao alto'.
E é por isso que estamos dando mais este passo ao entregar, às mãos do Governador, o produto de um ano de discussão, elaboração e construção autônoma do movimento social, de uma ferramenta que se expressa na concretude do conjunto das comunidades do Povo de Terreiro.
                                    Porto Alegre, 23 de novembro de 2012.
 Conselheira Sandrali de Campos Bueno- Iyá Sandrali d' Osún

domingo, 4 de novembro de 2012

Meu discurso de formatura há 28 anos atrás



Discurso  proferido por Sandrali de Campos Bueno, na cerimônia de colação de grau de Psicólogo,  Universidade do  Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, em 10 de agosto de 1984.

Exmo.  Prof. Jose Marculano,  Superintendente Acadêmico, Exmo. Prof. Carlos Alberto Wieck, Diretor do Centro de Ciências Biomédicas, Caríssima Psicóloga Maria Luiza Becker, Coordenadora do Departamento de Psicologia, Querida Paraninfa, Psicóloga Maria Luiza Santos Oliveira, queridos homenageados, caríssimos professores, queridas colegas, prezados familiares, amigos.

            Nós, formandas em Psicologia, estamos, nesta data, assumindo, publicamente, a concepção de que hoje é o dia mais importante e significativo, na árdua caminhada em busca do grau de psicólogo.
          As pessoas, aqui presentes, não são apenas convidadas: são nossos verdadeiros amigos, aqueles que compartilharam das nossas dificuldades, das nossas vitórias, da luta para chegarmos até aqui e sabem o quanto esse momento está representando em nossas vidas.
          Durante o período em que estivemos nessa universidade, passamos por etapas de aprendizagem que implicaram na reflexão sobre a nossa própria ação em termos de formação profissional e de conscientização do nosso papel na sociedade como  pessoa, como mulher, como profissional.
              No inicio do curso, nossa identificação era um número de matrícula, um numero que nos colocava em pé de igualdade com todos nossos colegas universitários.  A ideia inicial era mágica e nos deslumbrava. Tínhamos conquistado um espaço no tão sonhado curso universitário; tínhamos conseguido ultrapassar os condicionamentos de uma sociedade que ainda mantém obstáculos de acesso da mulher a certas funções consideradas privilégios masculinos.
               Porem, não tínhamos claro o que tudo isto representava; o que exigiria de cada uma de nós, o que exigiria dos nossos pais, dos nossos maridos, do nosso filho, dos noivos, dos namorados, dos nossos amigos.
        Éramos egocêntricas. Egocêntricas como a criança que vê o mundo apenas como satisfação de seus desejos. As contradições, os conflitos, as atribuições, os momentos alegres, tudo era percebido fora de nós. Em nossa expectativa, ou quem sabe, inexperiência,  tentávamos nos identificar e introjetávamos tudo que um curso exigia: leituras, trabalhos, debates, seminários, estereótipos... Ah! Os estereótipos, as rotulações... Éramos estudantes de Psicologia e, como tal, tínhamos que manter uma, pois nos impunham um papel que nos tirava o direito de sofrer, de errar, de ter emoções. Vivíamos como figuras irreais. E o que fazíamos? Bem, nós estávamos deslumbradas e, portanto, assumíamos este papel sem questioná-lo... E fomos um pouco de tudo; fomos aprendizes, colegas, amigas, acirradas competidoras e, algumas vezes, sendo interpretadas em sala de aula, outras vezes, interpretando.
          Mas este deslumbramento inicial foi dando lugar à crítica. Nos não estávamos sozinhas nesta caminhada; não éramos deusas, nem mistério, éramos todas em busca da mesma causa: “a libertação do indivíduo, tirando-o da alienação de todos os ditames da opressão”. Nós também estávamos oprimidas: oprimidas pela visão do outro que nos considerava diferentes, oprimidas pelas rotulações, oprimidas pela dúvida, pela ambivalência, pelo medo de nos envolvermos emocionalmente, de aceitarmos nossas limitações, de nos posicionarmos como indivíduos, como pessoas reais.
          E vieram os gastos e os desgastes com a nossa formação: livros, ‘xerox’, transporte, lanches, pensionato de algumas, matrículas financiadas... E vieram os momentos de oscilações de humor, as trocas das festas por aquele trabalho de ultima hora, as nossas ausências do convívio familiar em consequência daquele trabalho feito em grupo nas bibliotecas, as buscas competitivas  pelos locais de estágio, na pretensão de adquirirmos um modelo no processo de identificação com a nossa profissão . Mas, também veio o apelo interno: o apelo para nos tornarmos autênticas, conscientes de que dentro de nos haviam coisas a serem desenvolvidas. Veio o sentimento de saber que teríamos que ir adiante e, neste momento, fomos auxiliadas pela vivência com aqueles professores que se mostraram modelos profissionais, sim, mas acima de tudo, pessoas presentes e reais, hoje, aqui representadas pelos participantes dessa mesa de homenageados.
          E, com tudo isso veio os questionamentos, a ansiedade. A ansiedade frente a nossa visão critica frente ao investimento em nossa pessoa como ser humano, como cidadã, como agente de transformação. Já não era possível voltarmos atrás. Não se tratava apenas se valia a pena esta corrida pela tão sonhada conclusão do curso. Descobríamos que a realidade estava dentro de cada uma de nos e começamos a entender que a estrada mais fértil para nossa formação é o autoconhecimento, é assumirmos nosso espaço sem deixarmos que outros o assumam por nos, é acreditarmos que para 'tornar-se psicólogo' é preciso muito mais que 'ser psicólogo'. É preciso muito mais do que receber um diploma. É preciso aprofundar a própria experiência de 'tornar-se pessoa', de criticar a si mesma e de estabelecer uma relação consciente e afetiva com o trabalho e com as demais pessoas. É acreditar naquilo que nos predispomos a ser como profissionais, como gente. É lutar pelas eleições diretas, é lutar pela democracia, é entender o momento político, é refletir sobre o nosso papel na sociedade, é descobrir nossa identidade e tornar nossa ação profissional uma ação política, assumindo o risco da opção e tendo a coragem para afirmar-se e dar-se numa relação ativa com a sociedade.
          Hoje estamos conquistando o grau de psicólogo. Somos treze psicólogas, treze mulheres em busca do nosso espaço como profissionais. Novamente partimos de um número, um número que nos identifica no Conselho Regional de Psicologia. Temos consciência de que estamos assumindo um compromisso com a comunidade. Sabemos que haverá mais dificuldades, mais luta. Sabemos que nossa profissão é nova e não está madura em termos de comunidade profissional, que ainda está conquistando seu espaço como classe. Sabemos que ainda existe um medo de partir para um trabalho que acarrete um investimento social mais amplo, que torne 'o fazer psicologia' menos fechado e elitista, mais preventivo e libertador; menos como ação isolada, mais como ação político-social; menos competitivo mais cooperativo e solidário.
          E, por falar em solidariedade, não poderíamos esquecer um fato significativo: com tantos colegas com os quais convivemos, hoje, aqui, somos apenas treze. Um número bastante reduzido. Por isto gostaríamos de dividir este momento e deixar nossa solidariedade para com os colegas que não conseguiram chegar ate aqui conosco, ou por não terem conseguido uma vaga nos racionados locais de estágio, ou por não terem suportado o peso da inflação, ou por não terem conseguido descobrir o real dentro de si mesmo.
          A decisão de 'sermos psicólogas' foi conseguida através da luta e do esforço para vencermos a contradição do 'ser e não ser'. Mas, foi precisamente este sentimento de luta, de romper barreiras e grilhões de opressão que nos levou a refletir sobre o nosso papel e nos levará a 'tornar-nos psicólogas', a afirmar a devida dignidade dessa profissão como serviço social, “firmando nossas convicções em nossos próprios  meios e experiências e não através de princípios abstratos. Somos humildes ao visualizar o que anteriormente foi distorcido. E é esta humildade que aumenta nossa segurança porque deixa a porta aberta para novas aprendizagens e descobertas futuras.”
          Partiremos dessa Universidade para um trabalho cujo princípio norteador é a aceitação de que o instrumento do psicólogo é ele mesmo e só é possível aceitar nosso papel no momento em que aceitamos, dentro de nos, a ideia de que antes de tudo, temos que reconhecer nossas limitações e não estamos imunes a frustrações.
          Partiremos em busca de uma relação profissional ativa com a comunidade  certas de que não podemos esperar, pois como diz a música de Vandré: “esperar não é saber, quem sabe faz a hora e não espera acontecer”.
                                                São Leopoldo, 10 de agosto de 1984.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Poder de transformação


 Qual a inserção social da Psicologia na sociedade brasileira?


       Uma profissão só se consubstancia quando ela tem sentido para a sociedade.Independente do arcabouço teórico que embasamos nosso fazer,  a Psicologia sempre  terá o poder da transformação. E é esse poder que nos habilita a atuar em qualquer área do conhecimento basta que o processo de conhecimento comece dentro de cada uma e cada um de nós. (Sandrali de Campos Bueno)
¡

Empatia e o Pacto pela Paz

Capacidade  de colocar-se no lugar do outro

          
    Não somos deuses mas temos a capacidade e o dever de entendermos o sofrimento do outro e, se a temos, somos agentes e sujeitos de transformação capazes de diminuir os efeitos desastrosos que as discriminações, os preconceitos e as intolerâncias provocam  no processo de desenvolvimento das pessoas e de suas relações. Portanto, sendo ou não religiosos também temos compromisso com a Paz no mundo.                      (Sandrali de Campos Bueno)

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O tecido da rede


        

Rede!
Pra que te quero, oh! Rede.
             Pra que te tenho, oh! Rede.
Rede!
            Pra que te sirvo, oh! Rede.
Rede!
            Pra que preciso, oh! Rede.
Rede!
          Por que me tens, oh! rede.
Rede, Oh! Rede.
Não repita o passado
Em que eu, peixe pequeno, fui tirada
Do aquário protegido e cuidado
Para ser jogada
 no tanque dos tubarões
E tu, oh! Rede,
não estava lá pra me ofertar o teu fio
para que eu tecesse a malha protetora
da luta e da conquista.
E tu, oh! Rede,
Atribuíste, a mim, a culpa por eu ter sido devorada.