Hoje, ainda lembro dia
em que assumi a Presidência do Movimento Assistencial de Porto
Alegre, quando no saguão da Prefeitura, crianças e adolescentes de rua, meus velhos conhecidos, legitimavam com sua pesença
, a escolha do prefeito Tarso Genro e indicação do Movimento negro. Com sua ruidosa e alegre presença, subverteram a ordem do cerimonial
de posse. No meio de um clima de intensa emoção , a fala espontânea
de um adolescente muito me emocionou e deixou uma marca. Ele me
disse; “Sandrali, nos estamos no poder!”
Eu quero, neste
momento, confessar a ele e a todas as crianças e adolescentes
atendidos pelo MAPA e àquelas e àqueles que ainda não conseguimos
atingir, que nós ainda não estamos no poder.
Nós só estaremos no
poder quando o teu sonho de ter uma moradia digna, uma casa com
quarto, sala, cozinha e banheiro, tornar-se realidade:
Nós só estaremos no
poder quando o espaço, que as crianças e adolescentes de
rua ocupam na sociedade, deixar de ser um espaço de exclusão;
Nós só estaremos no
poder quando toda escola pública for uma escola aberta, quando a
educação para as crianças e adolescentes de rua deixar de ser
defendida como espaço como projeto alternativos para crianças
pobres mas for o projeto educacional para todas as crianças
brasileiras;
Nós só estaremos no
poder quando o brincar na rua for apenas uma opção de lazer e não
a única possibilidade de sobrevivência imposta por um sistema
político social injusto, discriminatório e excludente;
Nós só estaremos no
poder quando crianças e adolescentes de rua , na sua grande maioria
negros, puderem construir sua cidadania a partir de identidade, do
respeito por si mesmo,do resgate de suas raízes, de sua cultura;
Nós só estaremos no
poder quando todos os setoresda sociedade civil conseguirem em parceria com os organismos governamentais participaremm do espaço para se cosntruir uma cidade justa e humana;
Nós só estaremos no poder quando todos os mecanismos de confinamento de crianças e adolescentes forem banidos, mesmo aqueles que se intitulam reeducativos;
Nós só estaremos no poder quando o atendimento de crianças e adolescentes de rua se estender como direito que vá da alimntação ao direito de sentir prazer;
Nós só estaremos no poder quando não precisarmos nos constranger ou nos indignar com a pergunta de uma criança de quatro anos de idade:
"Mãe, porque o papai noel nao atende as crianças pobres?
Sandral ide Campos Bueno - Presidente do MAPA, 23 de dezembro de 1993.
Nenhum comentário:
Postar um comentário