Por Sandrali de Campos Bueno.[i]
O cenário político,
como todo, é um terreno bastante hostil para as mulheres. Infelizmente, ainda
somos criadas visando o espaço privado, o cuidado com o lar, com a família e as
atividades domésticas. A política, como coisa pública que é, ainda continua
sendo um espaço em que as mulheres são colocadas em segundo plano. Embora o
acesso das mulheres aos partidos políticos tenha aumentado significativamente,
oriundo de muitas lutas das próprias mulheres, o poder continua concentrado nas
mãos e nas vozes dos homens.
No que tange às mulheres
negras, esse quadro se torna ainda mais preocupante. O racismo, assim como o machismo,
estrutura a sociedade e, portanto, embora sejamos a maioria populacional do pais,
somos sub-representadas. A Assembléia Legislativa gaúcha nunca elegeu uma
deputada negra. O número de mulheres negras ocupando cargos no executivo
brasileiro (prefeitas e governadoras) é pífio, além disso, os próprios partidos
políticos silenciam as suas figuras públicas femininas e negras. O acesso aos
recursos partidários para as negras é ainda menor, fazendo com que nossas
dificuldades eleitorais sejam ainda mais expressivas. Concomitantemente, em
decorrência da divisão sexual e racial do trabalho, nossas jornadas
acumulam-se, o que obsta uma inserção mais incisiva de nossas companheiras nas
disputas eleitorais.
Embora tenhamos tres
mulheres disputando o executivo nacional e uma mulher na disputa do poder
executivo estadual, não basta ser mulher. É preciso estar conectada com as
demandas dos movimentos de mulheres, comprometida com a efetiva reestruturação
do sistema político brasileiro, com a promoção de políticas públicas
contundentes que possibilitem maior espaço e condições para que cada vez mais
mulheres concorram a cargos públicos e tenham possibilidades concretas de
disputa.
Nesse sentido, os partidos são
instituições chaves para operar uma mudança de cenário que propicie essas
condições, principalmente em suas estruturas internas. É urgente que tenhamos
um comprometimento das direções partidárias em garantir espaço às candidatas mulheres, em especial para as
mulheres negras. Este espaço, obviamente, deve
ter reflexos no tempo de televisão, na
maior visibilidade das militantes que encaram a dura tarefa de disputar um
cargo eleitoral e, também, em ações que aproximem mais mulheres do
cotidiano dirigente do partido. As cotas nas direções, em certa medida, são iniciativas
que procuram solucionar essas questões. Contudo, se elas não são acompanhadas
de outros empreendimentos, acabam se tornando apenas burocracias e cumprimento
de resoluções que muito pouco contribuem para o empoderamento feminino.
As reivindicações das mulheres
por políticas públicas que atendam as suas demandas têm cada vez mais ecoado na
sociedade. Nada mais coerente, que essas vozes, feministas e anti-racistas,
também ecoem nos espaços eleitorais. Estamos vivendo tempos muito férteis de
participação feminina e negra na política, mulheres que se organizam para
reivindicar e exigir direitos. É chegada a hora que essas reivindicações ecoem
nos espaços de poder através de vozes que se identifiquem com elas, não por
empatia, mas sim por vivência compartilhada.
[i]
Iyalorixá, Psicóloga, Especialista em Criminologia, Militante de direitos
humanos e das questões de gênero e etnia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário