Relaciono-me com várias pessoas brancas: pessoas que reivindicam o
lugar de irmandade com os mesmos conflitos inerentes aos relacionamentos
intrafamiliares; pessoas que, em determinados momentos, ocuparam o lugar de solidariedade incondicional, a ponto de pôr
em risco sua própria estabilidade; pessoas
de eterna permanência no lugar de filha-afetiva-espiritual, com mil passagens pelas
minhas vidas, como sendo a alma gêmea de que falam os místicos; pessoas que são
o contraditório diante das radicalidades inerentes às afiliações a grupos e
confrarias; pessoas que compartilham o cotidiano dos espaços sagrados da minha
tradição, vivenciando os pressupostos
civilizatórios da matriz africana; pessoas cuja relação transcende
o respeito e atinge a admiração da aprendiz pela mestra, partilhando os
avanços e recuos na luta por um mundo livre de preconceitos; pessoas cuja divergências
são apenas linhas que correm paralelas aos meus vetores, na mesma estrada, como
trilhos inseparáveis que formam o caminho por onde transita o trem dos sonhos e
das utopias de quem acredita que 'um mundo melhor é possível'; pessoas que contribuem na
construção do meu arcabouço teórico e epistemológico, através da visita de
outras formas de pensar as construçoes das singularidades e das desconstruções
conceituais; pessoas que vibram com meu jeito de desafiar o instituído na busca de
respostas inovadoras que sirvam de encontros com a alegria e o prazer que o conhecimento
propicia; pessoas que simplesmente apreciam os diálogos, ao final da tarde, nos
anexos da alma chamados pela alcunha de bares, praças, ruas e avenidas
transformadas em espaços onde a democracia se faz corpo e alma; e a pessoa onde
encontro “meu refúgio e meu abraço depois do cansaço”.
São tantas as pessoas brancas a
transitar pelas vias dos caminhos por onde meu corpo passa, amalgamado pelas
vivencias de outros corpos, numa circularidade fortalecida pela troca infinita, que
justifica minha presença nas suas vidas, que adjetivá-las, pela cor da pele, é
apenas um jeito de alertar que o racismo faz parte da natureza da branquitude. Alerta
que estas pessoas, que comigo são afetadas pela troca de saberes e de sensações, não ousam falar por mim, pois antes de qualquer coisa, como são minhas amigas, sabem que eu sei do racismo que há dentro delas e com o qual convivem querendo ou
não.
As pessoas brancas que são minhas amigas percebem e reconhecem o lugar
privilegiado que a branquitute a elas confere. As pessoas brancas que me tem como amiga , respeitam-me como a ‘chata”
que sempre apontou o racismo de cada uma. Portanto, encerro dizendo: obrigada, pessoas
brancas que são minhas amigas! Obrigada, pelo bem-estar de vocês mesmas que se
tornaram pessoas melhores, ao terem que abandonar o desejo contido de adotar
a postura de sinhazinha e sinhozinho.
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