Por Um Rio Grande Mais
Igual *
Sandrali
de Campos Bueno**
O Estado do Rio
Grande do Sul adere ao Plano Brasil Sem Miséria e, ao aderi-lo, faz
coro à fala da presidenta Dilma Rousseff: 'País rico é país sem
miséria'. E então, nosso Estado responde falando do RS Mais Igual.
O Rio Grande do
Sul fala ao Brasil e ao Mundo que quer erradicar a miséria e
promover a inclusão produtiva de 306,6 mil pessoas, em situação de
extrema pobreza, sendo estas espelhadas em mulheres chefes de
família, povos indígenas, povos quilombolas, povos assentados,
povos moradores de rua, povos acampados, povos catadores e outros
povos, ou seja, parcelas significativas dos povos tradicionais que
formaram o povo gaúcho
.
O Rio Grande do Sul
fala a partir do lugar que referencia um líder que é povo, que
veio do povo, que viveu como povo . Um trabalhador que sonhou e deu
concretude ao sonho de muita gente, aos sonhos de um povo.
O
Rio Grande do Sul fala partindo da concretude radical do sonho do
trabalhador- povo, do presidente- povo, Luiz Inácio Lula da Silva.
E
de que lugar eu falo? Enquanto representante do Comitê Gestor do
Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do RS, falo do lugar
do povo, falo do lugar da conquista, da luta por uma sociedade mais
igual, onde as armas sejam a do diálogo e a do respeito às
diferenças.
E então, começo
onde deveria ter iniciado: saudando, mesmo não estando presente, a
ministra Tereza Campello que tem como desafio dar visibilidade e
concretude às politicas de proteção e inclusão social ; saudando
ao governador do nosso Estado, Tarso Genro, QUE TEM A MISSÃO DE
LIDERAR e concretizar o sonho de um Rio Grande( e que seja grande
para todos e todas); saudando o secretário Carlos Pestana que tem o
compromisso de dirigir os caminhos que nos conduzirão a um estado
sem miséria, sem pobreza,( pobreza que tem gênero, cor,etnia e
lugar, lugar de exclusão) e, em seu nome saúdo aos demais
secretários e secretárias de estado; saudando o secretario
executivo do CDESRS, Marcelo Danéris e através dele saúdo às
conselheiras e aos conselheiros; saudando ao deputado federal,
Henrique Fontana, e, por ele, saúdo a todas e todos que,
independente do lugar de onde falam, constroem, através da sua
liderança cotidiana, a identidade do nosso estado, pois é:
da
grandeza de seus sonhos ,que surge a grandeza de um povo.
Então trago
a lembrança, dois líderes dos quais nossa memória ancestral ainda
alcança:
Sepé Tiaraju e Adão
Latorre: um, reconhecido como herói riograndense e nacional pelas
suas façanhas; outro, esquecido como herói pelas suas façanhas,
talvez conhecido como anti-herói e desconhecido, até mesmo pelo seu
povo, também pelas suas façanhas.
Porque
trago à memoria estes lideres?
Porque é em nossas
forças que devemos nos espelhar para vencer nossas dificuldades; é
em nossa história que encontraremos as respostas para nossas
contradições civilizatórias.
E do que
nos fala a história de Sepé e a história de Latorre? A história
das Missões Guaranis e a historia da Revolução Federalista?
Fala dos
direitos à terra e às riquezas desta terra : e
disso tratam o Brasil Sem Miséria e o RS Mais Igual.
Fala
da integração que nestas terras havia: pois a República Guarani
abrangia o que hoje é o Estado do Rio Grande do Sul e os vizinhos
países Paraguai, Uruguai e Argentina. E a Revolução Federalista
(federalista, não separatista) buscava conquistar mais autonomia
ao estado do Rio Grande do Sul, descentralizando o poder da então
recém proclamada República, tendo o apoio da Argentina e do
Uruguai.
Integração
e autonomia estas tão importantes como nos apontam os “Santos”:
Milton e Boaventura! Belo efeito a união de significados que trazem
os nomes deste baiano Cidadão do Mundo e deste Português cidadão
dos Sul.
E
que mais nos conta e lembra a história dos Sete Povos das Missões,
imortalizada em nossas memórias pelo Herói Guarani? E o que mais
nos conta a história de Adão Latorre, negro e pobre ,
revolucionário maragato que ocupou nas forças oposicionistas o
posto de tenente- coronel em 1893 e de coronel na Revolução de
1923?
E,
o que é mais importante, em que direção de futuro a história nos
aponta?
O
tempo que disponho não me permite discorrer sobre as façanhas de
Sepé Tiaraju e, menos ainda, da reconstrução do nome do Coronel
Adão Latorre que morreu, aos oitenta anos, lutando pelos ideais
revolucionários. Porém me permite falar que Sepé Tiaraju lutou
para defender esta Terra: que era a terra física mas que também era
o chão, o sustento, a Mãe e o abrigo de sua comunidade; que Adão
Latorre lutou pela autonomia do povo riograndense, mas entrou para
história como negro bandido e feroz de faca porém, como fala Moisés
Silveira Menezes em seus versos, “a faca na mão de Adão, é a
faca do oprimido a mando de outro opressor”.
Todos
sabemos a quem se destina o RS Mais Igual, todos sabemos quem são
essas pessoas e todos queremos saber como fazer para que elas saiam
da condição de extrema pobreza. Qual é o aporte orçamentário do
estado, qual é a participação da sociedade civil, como se efetiva,
na concretude do sonho, que as politicas de promoção e inclusão
chegue até estas pessoas de tal forma que o peixe a ser ensinado a
pescar, seja o peixe que matará a fome de educação, de saúde, de
trabalho, de renda, de justiça, de lazer, de dignidade, de autonomia
e de respeito as suas tradições e diversidades.
São
grandes os desafios que, é claro, vão além de Sepé, vão além de
Latorre mas a organização econômica da sociedade guarani era
comunitária, ou seja, os bens e meios de produção pertenciam a
toda comunidade; a organização dos ancestrais de Latorre e da
sociedade quilombola eram construídas com base nos princípios do
que entendemos por democracia com bases socialistas e de trabalho
cooperado. E ambas inspiradas no princípio civilizatório da
solidariedade e da coletividade.
São
grandes os desafios de reconstruir e reparar processos
civilizatórios, mas também tem sido gigante, por tanto tempo,
enquanto civilização, a nossa indiferença ou o fazermos vistas
grossas. É só lembrarmos dos indicadores ,- 306,6 mil - que não
são números, são Vidas, vidas que buscamos transformar e temos a
responsabilidade social de oportunizar o acesso às riquezas e à
grandeza do nosso Estado.
Mas
por maiores que sejam estes desafios, não são maiores do que o
exemplo dos gigantes em quem buscamos nos mirar:
Voltar
ao passado? Não!
Construir
um futuro melhor. Inspirar-se!
Inspirar-se
para construir políticas efetivas de inclusão e promoção de
igualdade.
E
a isso, principalmente, que nós nos desafiamos e desafiamos o
governo do Estado: a honrar o passado e o futuro do Rio Grande,
sabendo que o presente, é o melhor futuro que se pode propiciar a
alguém (é só lembrar de nossos crianças, de nossos jovens a quem
o crack rouba o futuro, mas não só ele!) é garantir-lhe uma vida,
DIGNA, construtiva, emancipatória, no PRESENTE
Obrigada
Sepé, obrigada Adão Latorre, obrigada Governador, obrigada
Presidente Lula, obrigada Presidenta Dilma, obrigada Integrantes do
CDES, obrigada Povo de meu Estado, o Rio Grande do Sul, obrigada aos
nossos ancestrais e obrigada à espécie humana, da qual fazemos
parte, condição que devemos honrar, com intenções e ações
concretas para erradicar a pobreza e a fome neste Estado,no Brasil,
no Mundo.
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*Pronunciamento
na reunião do Pleno do Conselho de Desenvolvimento Econômico e
Social do Rio grande do Sul – CDESRS, em 17 de maio de 2012, no
Palácio Piratini, Porto Alegre.
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Psicóloga. Conselheira , representante do Povo de Terreiro de Matriz
Africana